7 de dezembro de 2007

A Inconsciência e a Consciência

Era uma vez um ilustre personagem da nossa terra que, nos actos e omissões políticas que vai praticando, muitas vezes denuncia uma perigosa alternância entre comportamentos conscientes e outros menos conscientes, que se poderão designar de inconscientes.

Praticando muitas vezes actos políticos que esbarram contra os princípios e normas jurídicas vigentes, não raras vezes, vê a sua juvenil inconsciência política entrar em confronto com o que resta da sua consciência jurídica, área de formação do personagem.


Aquando de um recente e famoso caso de procedimento disciplinar contra um quadro superior, houve, durante o sono do personagem, um confronto épico entre as mesmas. A Dona Vassoura vai neste texto, fazer o filme desse mesmo confronto.

Cá vai…

Inconsciência Política (adiante IP) - Tenho que despedir o tipo pá… anda a querer fazer uma lista de independentes com o meu segundo e anda pelos cafés a dizer que conta tudo o que sabe. Tenho que o despedir pá…

Consciência Jurídica (adiante CJ) - Mas sabes que das penas disciplinares previstas na lei, a demissão só se aplica se houver prova de quebra de sigilo profissional e, entre outras do género, se tu provares que houve ilícito material para benefícios próprio ou de terceiros. Tens provas disso? Isso aconteceu?

IP - Não, isso não. Mas não me interessa!!! Tenho que calar o tipo e provocar medo aos outros, para que o meu reinado político não seja abanado por meros funcionários da Câmara. Ele precisa de uma lição e os outros também, para verem quem quer, quem pode e quem manda.

CJ - Mas se não houve ilícitos desses e muito menos provas, não me parece que consigas um procedimento disciplinar com vista à demissão!

IP - Ele anda a falar mal de mim, diz que sabe aquilo que eu fiz e que vai por a boca no trombone. Tenho de o impedir de uma vez por todas de o fazer.

CJ - E o que vais fazer?

IP - Primeiro suspendo-o e depois…

CJ - Suspendes? Como? Isso tem regras, pressupostos e procedimentos… Consegues cumpri-los?

IP - Não os sei, nem me interessam. Suspendo e pronto! Quem manda? Quem manda?

CJ - É a lei que manda e estou farto de te avisar disso. E é a lei que existe e não aquelas que tu inventas.

IP - Invento? Invento? Se invento é por que fazem faltas leis assim para se poder governar sem imbróglios!!!

CJ - Olha lá, essa teoria já te correu mal noutras situações. Aconselho que sigas a lei e que cumpras os procedimentos.

IP - Já te disse quem manda! Sou eu e pronto! Mas preciso de fazer a coisa de forma a assustar todos, ou seja, com rapidez e autoridade.

CJ - Rapidez? Com as leis portuguesas e com os nossos tribunais? Estás a pedir muito…

IP - Quais tribunais? Quais tribunais? Resolve-se isto com meia dúzia de testemunhas e estórias e já está!!!

CJ – Mas ele pode recorrer e ganhar esse mesmo recurso. Depois, és obrigado a integrá-lo novamente nos quadros e pagar todos os ordenados atrasados…

IP - E isso pode demorar quanto tempo?

CJ - Depende de muita coisa, mas talvez uns dois ou três anos…

IP - Ah ah ah ah, isso não importa, como vejo as coisas pretas, quase que adivinho que quando isso acontecer, já cá não estarei. Os desgraçados que cá ficarem que paguem essa conta e todas as outras. Ah ah ah ah!!!

CJ - Mas falaste em testemunhas… O homem até parece ser competente e reconhecido como tal. Achas que alguém credível testemunhará contra ele em questões técnicas para chegares à demissão?

IP - Pá… isso vai ser difícil, mas talvez arranje umas poucas a dizer que o homem bebe uns canecos…

CJ - Canecos? Em serviço? Isso já é alguma coisa…

IP - Em serviço não, mas fora dele sim. Para isso arranjo muitas…Para mim é tudo igual, não sei se percebes ah ah ah ah!!!

CJ - Mas tu não sabes que isso não é justa causa para a demissão, e por tudo o que me disseste, aconselho-te a propores somente uma repreensão, multa ou suspensão. No máximo!!!

IP - Não. É para a rua, e é já!!!

CJ - Desaconselho, desaconselho… Tenta ao menos uma testemunha credível para falar mal dele. Tens alguém?

IP - Tenho pá, tenho o antigo presidente, ele quer uns favores por causa do municípios do côa, já me ajudou nas eleições, já o medalhei e agora vai-me ajudar também…

CJ - Eu disse CREDÍVEL! CREDÍVEL! Ouviste pá?

IP - Eu sei, mas se homem foi Presidente da Câmara, deverá parecer credível…

CJ - Já sabes que o parecer é muito diferente do ser, ainda por cima se foi chefe dele durante anos a fio e não o acusou de nada, como o poderá acusar agora? Que credibilidade terá para isso?

IP - Pá… não me tinha lembrado disso…

CJ - Estás a ver, estás a ver… Não o chames para testemunhar pois só vai enfraquecer os teus argumentos que, à partida, já são muito fracos!!!

IP - Não tenho mais ninguém! Não consigo mais ninguém! Vai ter que ser mesmo este a testemunhar, pois ele está mortinho por me fazer favores!

CJ - Isso não vai dar certo! Vais ser motivo de chacota mais uma vez, e um advogado de olhos mais abertos que tu, ganha isso em tribunal de certeza!!!

IP - JÁ TE DISSE: TEM QUE SER E ASSIM SERÁ!!! Nestas coisas de construir ditaduras, sabes bem que os fins justificam os meios.

CJ - Nem acredito no que disseste!!! Como és capaz?

IP - Cala-te, dorme e deixa-me dormir a mim. Há anos que andas sem me chatear e por que carga, hoje havias de aparecer? Desaparece imediatamente! Tu, o processado, o vereador, a oposição, os blogues, a doutora, o doutor, os socialistas armados em santos, os Fozcoenses, e todos aqueles que não me deixam construir o reino por mim imaginado!!! DESAPARECE!!!


Sem comentários,

A omnisciente

Dona Vassoura

17 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é D. Vassoura concordo plenamente, o mal é que parece que se está a pegar, já existe mais gente a pensar adiar as decisões para daqui a dois ou três anos, para quando já lá não estiverem.
Devem ter sido os concelhos do sr. presidente da câmara.

11:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Vocês políticos de meia tigela continuam ainda afincados ao Reino dos Suevos e dos Visigodos. Preguiçosos, falam da vida alheia como se de uma actividade social se tratasse e são maus. No meio de tanta inteligência que gravita naquela casa grande porque não surge e se discute nenhuma ideia para implementar num concelho tão rico em matérias-primas. Caso ainda não tenham atingido tal conclusão, e não devem ter, porque andam para ai entretidos com conversas que não interessam a ninguém, as regiões de futuro são aquelas que conseguem criar matéria-prima de alta qualidade, pois os factores de produção deixaram de ser uma barreira. Se quiserem saber mais acerca destas questões leiam e cultivem-se em alguns manuais de economia e gestão! Pois bem, dizem vocês, com aquela postura normal de miserabilísmo e minimalista: “ninguém nos ajuda, o estado e os governantes do poder central deixaram o interior ao abandono, bla, bla, ... e bla.”. Mentiras! Os principais causadores do estado de sitio do interior são as próprias pessoas autócnes, e contra mim falo, e principalmente, como é óbvio, dos falsos políticos. Mas eu como sou o “Zé das Ideias”, e como temos pessoal letradas no executivo camarário, aqui vai: como devem saber o próximo quadro de apoio de subvenções da União Europeia pauta por muitos apoios de cariz imateriais. Porque não elaborar uma candidatura para a criação de um fundo de cariz exclusivamente empresarial conjuntamente com uma Capital de Risco! Sabem o que é isto? Estudem e investiguem. Este fundo, que não mais era do que uma sociedade de capital de risco apenas deveria investir no capital social de empresas a criar ou já existentes e numa primeira fase nas áreas: agrícola, agro-industrial, serviços de idosos; numa segunda fase no comercio e serviços em geral. O fundo deveria paralelamente incentivar actividades isoladas de convergência, ex. criação de uma unidade que comercializasse os produtos gerados pelo conjunto das empresas locais nas grandes cidades. Pois é, dá trabalho não é, muitos devem pensar: “Olha mais um teórico fora da nossa terra!”. Ponham isto no papel, mas bem feito, com cores e tudo, e não se esqueçam do estudo de viabilidade económico-financeira e social! Apresentem no ministério da economia e “batam o pé”. Destas acções é que deviam tirar partido político, e não que para aí andam a fazer. Fiquem cientes de uma coisa, se o sector privado não gerar riqueza o estado não governa. Importa nesta altura inverter este paradigma que devia ter sido invertido à muito, o poder local no interior tem que directamente apoiar o sector privado. Como podem verificar, é simples, ficavam logo sem as pressões dos tachos para a Câmara.
Já agora D. Vassoura, porque não cria aqui uma área para ideias! Pois é, compreendo, não há clientes nem produção, mas tente, peço-lhe encarecidamente.
A próxima ideia é sobre o que fazer às adegas cooperativas do concelho, estratégia económica e modelo de refinanciamento estrutural. Esperem para ver!
Até lá, muitas ideias para minha terra e um grande abraço de longe aqui tão perto!
O Zé das Ideias (um dia destes alguém mudará para “ O Zé dos Ideais”! Cá estarei para o confrontar!) Adeus.

10:25 da manhã  
Blogger vassouradas said...

Concordo plenamentte com a criação de um fórum de debates de ideias e projectos que contribuam para a evolução para um novo paradigma de desenvolvimento social e económico, que possa inverter o processo de desertificação no qual caminhamos.

Vou pensar na melhor forma de o fazer e depois darei novidades.

Até lá, que ninguém se acanhe de o começar a fazer aqui, através dos comentários.

Já agora, estes comentários serão sempre muito mais bem-vindos do que aqueles que apenas criam divisionismo entre o povo de Foz Côa

Cumprimentos

Dona Vassoura

12:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

De facto o titulo deste Blog apropia-se ao tema que aqui vos vou relatar: "A Insconsciência e a Conciência".
Se bem se lembram umas das primeiras medidas deste executivo foi o de, tarifar a todos aqueles que possuiam a possibilidade de usufruirem de àgua canalizada servida pelo muncipio graciosamente, obrigou instituições de caris social a pagarem a àgua que consumiam. Pois bem até aqui até podemos concordar com algumas dúvidas nesta medida, podendo perguntar quem querem atingir, mas tudo bem. Agora surge o verdadeiro problema, como sabem o vereador repescado, Ò DA GUARDA, anda a construir um loteamento à cerca de 1 ano, para espanto meu, quase no terminus da sua construção ainda não possui um contador de àgua do município, PERGUNTO EU, será que as benesses são só para o aparelho socialista, ainda mais para um municipe que nem no concelho reside, nem no concelho deixa os seus impostos, só vem ao seu concelho axilar pois na terra dos Fs é considerada PERSONA NON GRATA,pelo seu chefe.
INCONSCIÊNCIAS...

2:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

UMA VERGONHA...

Queria aqui deixar uma questão que gostaria que alguem conhecedor nos relatasse:

A competência do Sr. Lemos Pinto, "ilustre" administrador delegado, não sei bem de quê, sei que é pago a peso de ouro, foi fazer recentemente para espanha.
Pois bem, deslocou-se a Vigo e agora mais recentemente a Valadolid, com uma comitiva que só vendo, mas isso é outro assunto, a minha questão é a seguinte, porque é que o pavilhão do barco esteve dois dos cinco dias de exposição encerrado em Vigo.
Terão ido passear?

2:29 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

D. Vassoura, mais uma vez parabens pela sua ideia em criar um blog. Sabia que até os Socialistas agora criaram um para divulgação das suas actividades, pois bem, parabens D. Vassoura, tem seguidores fieis, que tanto mal disseram destes blogs que até acabaram apaixonados pela ideia que a seguiram.
Pois, mas este facto tem outros contornos, já sabiamos que as fotocópias, telefonemas, bases de dados para as suas actividades eram realizadas com os bens de todos nós, no município e agora também escrevem e publicam o dito blog rosa nas Paços do Concelho.
Tenho dito...

2:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

HÁ DIAS ALGUÉM COMENTOU " ... A EMPRESA DO VEREADOR GUSTAVO É A MAIOR EMPREGADORA DO CONCELHO.
DINAMIZA DIARIAMENTE O TECIDO ECONÓMICO LOCAL.
É BOM TRAZER À MEMÓRIA DE TODOS O QUE ACONTECEU COM O MEU PAI E TANTOS FOZCOENSES, QUE TIVERAM DE EMIGRAR DEPOIS DE TRABALHAREM ANOS A FIO NA DITA EMPRESA, SEM QE ESTA LHES FIZESSE QUALQUER DESCONTO PARA A SEGURANÇA SOCIAL.
ALI DERAM O MELHOR DAS SUAS VIDAS, SEM OBTEREM CONTRAPARTIDAS NA SEGURANÇA DO SEU FUTURO,ATRAVEZ DUMA REFORMA A QUE TERIAM DIREITO E DELA FORAM EXCLUIDOS.
QUANTOS NÃO SE LEMBRAM AINDA DAS VEZES QUE FORAM MANDADOS SAIR PARA SE ESCONDEREM ATRAS DAS FRAGAS QUANDO OS INSPECTORES DA SEGURANÇA SOCIAL VISITAVAM AS PEDREIRAS!
ESTAS MEMÓRIAS NÃO SE APAGAM, POIS DEIXARAM MARCAS NA VIDA DE MUITAS FAMILIAS.

2:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

OBRA DO TERCEIRO-MUNDO

A câmara deve voltar os olhos, por um momento, para as suas intervenções. Elas não podem ser frutos de acasos em que legitima tanto virtudes como erros.
As obras, dignas de tal nome, concretizam sério trabalho de inteligência, peculiar esforço de saber, o resto é de alguém que dormita, sofre obscurecimentos, caduca – e aí ficam estragadas e desfeiam a nossa querida aldeia!
Vêm estes comentários a propósito do restauro de uma casa, sita na rua Direita, em Numão, para ali funcionar, futuramente, o Centro de Interpretação Turística.
Trata-se de uma obra louvável e de grande repercussão na dignidade da freguesia, sobretudo pelo seu valor histórico.
Porque o rés-do-chão da casa se encontra a um metro e tal soterrado, os projectistas da obra, para o acesso das pessoas com mobilidade condicionada e normais, resolveram – vá lá saber-se porquê – afundar a rua, danificando-a em dois metros, na largura e cerca de vinte metros, no comprimento.
Perante tal cenário, de ora em diante, ali é impossível cruzarem-se dois carros, sucedendo o mesmo ao estacionamento dos carros das pessoas que ali habitam, bem como os dos que nos visitam nos dias de mercado.
Em suma, se antes a casa em ruínas afeava a rua principal da aldeia, agora é a rua que desfeia a obra. E mais: envergonha e entristece todo o numantino que sempre esperou ter ali um centro emblemático de que se pudesse orgulhar.
Para terminar ficam algumas perguntas à Câmara respeitante a este dislate:
- Se a restauração dessa casa fosse requerida por um munícipe, que não a Junta de Freguesia, seria autorizada?
- Porque vos havemos de reverenciar, ó responsáveis camarários, dizei? Pelo rumo que não tendes? Pela discussão abrangente que não praticais? Acaso podeis esperar contínuo apoio dos eleitores quando os brindais com projectos e obras capazes, logo depois polvilhadas de um despautério atroz e um desconchavo relapso?
Empenhado na minha palavra, confesso que este texto é de inteira responsabilidade do signatário, feito sem mandantes e mandados, mas na certeza de que o desagrado dos numantinos é geral… e rejubilam-se com este meu gesto.

2:19 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O trabalho no Poio, aqui há alguns anos, era quase todo feito em subempreitadas à peça, e os trabalhadores eram então pequenos patrões. Outros não queriam descontar para a SSocial, para levarem o salário inteiro para a casa. A empresa do Engº Gustavo foi a primeira do Poio a actuar na legalidade.

7:05 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Anónimo disse...
"O trabalho no Poio, aqui há alguns anos, era quase todo feito em subempreitadas à peça ..."

´JÁ QUE REVELA CONHECIMENTO DE CAUSA GOSTAVA QUE EXPLICASSE AOS LEITORES COMO É QUE A EMPRESA DO ENGENHEIRO CONTABILIZAVA ESSAS COMPRAS FEITAS nas ditas subempreitadas

2:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

hó anonimo das 2:32 então não sabes que na nossa santa terrinha os trabalhadores só "à força" é que fazem descontos para a segurança social? Querem receber a jorna por inteiro, sem descontos.Nos trabalhos do campo,da construção civil etc querem o dinheirinho e os descontos que o faça patrão. No tempo do teu pai quem é que fazia descontos? diz lá um

6:44 da manhã  
Blogger Um observador atento que tenta ver a politica apartir de foz Côa said...

RIO DAS SOMBRAS
ANTÓNIO ARNAUT
UM LIVRO QUE TODOS OS FOZCOENSES DEVIAM LER



NA FNAC UMA SALA CHEIA PARA ASSISTIR À APRESENTAÇÃO DO LIVRO

O Dr. Miguel Veiga fez uma apresentação sentida e com história. Um romance de António Arnaut que faz uma viagem por uma época mercante da vida política em Portugal. Do Estado Novo ao desencanto do 25 de Abril e desta Democracia.
Os problemas que subsistem e a esperança que é preciso renovar. António Arnaut trouxe um novo incentivo à política e a todos que lutam pela Democracia e pela Liberdade.
Arnaut foi positivo no seu discurso e com clareza falou dos problemas passados e das dificuldades actuais.
Um livro que dá que pensar.
Política sem Ética não é política. É outra coisa...

9:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

VALE A PENA LER E REFLECTIR
(TEXTO DE CLARA FERREIRA ALVES)


Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso.



Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.



Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia que se sabe que nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.



Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.



Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços do enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.



E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogues, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.



Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muito alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?



Vale e Azevedo pagou por todos.



Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção.



Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.



Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?



Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?



Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?



Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?



Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?



Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.



No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém? As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não substancia.



E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu?



E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?



E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente"importante" estava envolvida, o que aconteceu?



Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.



E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?



E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?



O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.



E aquele médico do Hospital de Santa Maria suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?



E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.



Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.



Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.



Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade. Este é o maior fracasso da democracia portuguesa e contra isto o PS e o PSD que fizeram? Assinaram um iníquo pacto de justiça.



Fonte: Clara Ferreira Alves, Expresso, Novembro 2007

9:14 da manhã  
Blogger Um observador atento que tenta ver a politica apartir de foz Côa said...

"A ideia de que a democracia assenta na representação de ideias e interesses diversos está ameaçada" (*). A frase ficou-me no ouvido. A realidade descrita pelo seu autor - a "democracia directa" de Hugo Chávez ou a "democracia dirigida" de Vladimir Putin - tem pouco que ver com a realidade portuguesa. Mas, ontem, tinha um pouco menos do que tem hoje. O que podemos agradecer ao acordo cozinhado, por estes dias, entre o PSD e o PS, relativamente às mudanças na lei eleitoral autárquica.

Dois partidos do bloco central, que tantas vezes se confundem um com o outro, ao ponto de não sabermos se de facto representam ideias e interesses diversos. Dois partidos cuja identidade se parece ter perdido no mesmo nevoeiro que teima em não devolver D. Sebastião. Dois partidos, ainda assim, onde estão os que mandam. E quem manda, já se sabe, não gosta de partilhar o poder.

Vai daí, e para começar, preparam-se para instituir a regra dos executivos maioritários. Traduzindo para linguagem simples, corrigir na secretaria os equívocos provocados pelo voto popular. Ou seja, se os eleitores decidirem que o partido "A" só é credor de 36% dos votos, o "B" de 34%, o "C" de 11%, o "D" de 10% e o "E" de 9%, é seguramente por engano. E portanto transforma-se a maioria relativa em maioria absoluta na vereação municipal, incluindo o presidente, para o partido "A". Vá lá que, mais uma vez introduzindo correcções de secretaria, o partido "B", ainda que em minoria, também é capaz de ter direito a uns vereadores. Para os outros é que já não dará. Claro que quem vir neste exercício algum paralelismo com os cinco maiores partidos portugueses está a delirar. Sobretudo se achar que o "A" e o "B" podem ter alguma coisa que ver com o PS e o PSD.

Como é evidente, este cozinhado não é de carne nem de peixe. Sendo que a carne seria uma Assembleia (Parlamento) Municipal com poderes de fiscalização reforçados e composta de forma proporcional, da qual resultaria um Executivo (Governo) Municipal, obrigado, ou não, consoante os resultados da votação, a optar por uma coligação. E que o peixe seria a manutenção do actual sistema, com Assembleia e Executivo com eleições separadas, mas assegurando em ambos os casos - e lá regressa a frase inicial - a "representação de ideias e interesses diversos". O leitor que escolha se gosta mais de carne ou de peixe. Não conte é com o PS e o PSD, que esses, como se vê, são vegetarianos. O que me faz temer, se não pela democracia, pelo menos pela couve galega

Postado por Um observador atento que tenta ver a politica apartir de foz Côa às 11:2

9:24 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Acho bastante piada a estas pessoas que nao tendo por onde pegar, arranjam todas as desculpas (por mais ridiculas que sejam, como é o caso) para tentar atacar o eng. Gustavo. Tenham calma homens, o homem ainda nem sequer é candidato e ja estão cheios de medo que lhes tire o tacho. Porque será?

9:50 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

olha anonimo das, 9,50 o eng.Gustavo nao rouba o tacho a nimguem o que tu queres dizer, é que ele perdeu,e anda a ver se o encontra

6:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Para o anonimo 6.49: "....a ver se encontra salvação para a nossa terra"

7:33 da manhã  

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